Nana Caymmi morre aos 88 anos
A morte da cantora foi confirmada por seu irmão, o músico e compositor Danilo Caymmi, no início da noite desta quinta-feira (1)
A música brasileira perdeu uma de suas vozes mais icônicas com a morte de Nana Caymmi, aos 88 anos, nesta quinta-feira. A cantora e compositora, conhecida por sua marcante interpretação e por herdar o talento musical da famosa família Caymmi, faleceu em decorrência de complicações de saúde relacionadas a problemas cardíacos. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José, no Rio de Janeiro. A triste notícia foi confirmada por seu irmão, Danilo Caymmi, em um comunicado emocionado.
Nana, que lutou contra problemas cardíacos ao longo de 2024, incluindo a implementação de um marcapasso para tratar uma arritmia, já havia enfrentado um câncer de estômago em 2015, desafios que marcaram sua saúde e, consequentemente, sua carreira. Filha do renomado compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu Dinahir Tostes Caymmi, em uma família imersa em música. Incentivada desde cedo pelos pais, iniciou seus estudos em piano clássico e, em 1960, deu o primeiro passo na carreira musical ao gravar “Acalanto”, uma canção de ninar composta por seu pai.
Sua trajetória musical foi recheada de altos e baixos. Logo após iniciar sua carreira, Nana decidiu se mudar para a Venezuela, onde se casou com o médico Gilberto José Aponte Paoli e teve três filhos: Stella, Denise e João Gilberto. Porém, durante sua volta ao Brasil, enfrentou um momento delicado com seu pai, que se tornou distante em função de seu casamento e separação. Em uma virada significativa, seu irmão Dori a apoiou, levando-a a se apresentar no I Festival Internacional da Canção, onde, apesar de ter sido vaiada ao ser anunciada como vencedora, começou a conquistar seu espaço na música brasileira.
Nana não só marcou a cena musical brasileira nos anos 60, mas também teve um impacto duradouro ao se apresentar com grandes ícones do gênero, como Gilberto Gil e o grupo Os Mutantes. Em 1973, ela teve uma temporada de sucesso em Buenos Aires, lançando um disco que apresentou aos amantes da música clássicos de compositores como Tom Jobim e Chico Buarque. Ao longo das décadas de 70 e 80, Nana continuou a lançar álbuns aclamados, solidificando sua posição como uma das vozes mais respeitadas do Brasil.
Apesar de seu grande talento, Nana não conseguiu a mesma popularidade que algumas de suas contemporâneas, como Maria Bethânia e Elis Regina. Porém, sua história mudou em 1998, quando a canção “Resposta ao Tempo”, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhida como tema de abertura da minissérie “Hilda Furacão”. O sucesso da novela ampliou seu público e trouxe um novo frescor à sua carreira.
Anos antes, em 1989, Nana havia se deparado com um revés. Sua gravação de “Vem Morena” foi descartada em favor de uma canção mais animada para a abertura da novela “Tieta”. Essa situação a deixou frustrada, mas não desanimada, e ela continuou a lutar por seu espaço. Em 2000, lançou “Sangra de Mi Alma”, um álbum que foi um sonho realizado, dedicado exclusivamente ao bolero.
Nos anos 2000, Nana regravou diversas canções de seu pai, Dorival Caymmi, em álbuns temáticos que celebraram sua herança musical. Discografias como “O Mar e o Tempo” e “Caymmi” destacaram o legado de Caymmi e a conexão profunda que Nana tinha com sua família e suas raízes.
Dentre seus lançamentos mais recentes, destacam-se “Nana Caymmi Canta Tito Madi” (2019) e “Nana, Tom, Vinicius” (2020), ambos com composições de grandes amigos e influências. No entanto, essa época foi marcada pelo afastamento dos palcos; sua última apresentação ao vivo foi em 2015, e muitos fãs aguardavam ansiosamente seu retorno.
A morte de Nana Caymmi deixa um vazio no cenário da música brasileira, mas seu legado perdurará através de suas canções atemporais e das influências que exerceu sobre gerações de músicos. Seu depoimento importante no documentário “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos” também se estabelece como um tributo à sua relação com seu pai e à sua paixão pela música.
Em agosto de 2024, sua voz foi trazida de volta ao público em “A Lua e Eu”, uma faixa do cantor Renato Brás, gravada em sua casa, mostrando que, mesmo em seus últimos dias, Nana continuava a influenciar a música com seu talento inigualável.
Em sua última entrevista ao Estadão, realizada por ocasião de seu 80º aniversário, Nana expressou o desejo de gravar parcerias inéditas com seu irmão Dori e de interpretar canções de Milton Nascimento e Beto Guedes. Sua insatisfação com a falta de novos compositores para fornecer repertórios novos refletia uma constante busca por inovação em sua carreira.
Nana Caymmi não apenas iluminou palcos, mas também encheu os corações daqueles que ouviram sua música. Sua vida foi uma verdadeira melodia de luta, amor e arte. Como ela mesma disse em uma de suas reflexões sobre o processo de gravação: “Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre.” Nana continua a deixar sua marca nos corações de todos aqueles que tiveram a sorte de ser tocados por sua arte.
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