Câmara realiza audiência para discutir e conscientizar população sobre a fibromialgia
A Câmara Municipal de Campo Grande realizou, nesta sexta-feira (22), audiência pública para discutir e conscientizar a população sobre a fibromialgia, doença reumatológica que afeta a musculatura causando dor crônica nos pacientes. O debate foi convocado pelo vereador Ronilço Guerreiro, através da Comissão Permanente de Saúde da Câmara, composta pelos vereadores Dr. Victor Rocha (presidente), Professor André Luís (vice), Dr. Jamal, Tabosa e Dr. Loester.
“Essa demanda chegou ao nosso gabinete pelo gabinete de rua, pelas próprias pacientes. Hoje, as pessoas com a doença têm direito a estacionamento e atendimento prioritário. Isso já está valendo. É uma conquista de todos. É uma doença que poucas pessoas conhecem. Quem tem, sofre. Quem vê uma pessoa com fibromialgia, não sabe que ela tem dor. Essa Casa está aberta a discutir todas as demandas que a população traz para nós. Vocês não estão sozinhos. Contem com essa Casa”, disse Guerreiro.
A fibromialgia é uma doença reumatológica que afeta a musculatura causando dor. Por ser uma síndrome, está associada a outros sintomas, como fadiga, alterações do sono, distúrbios intestinais, depressão e ansiedade. Acomete 2% da população mundial e é mais frequente em mulheres.
Para o médico reumatologista Marcelo Cruz Rezende, o conhecimento da sua doença é fundamental. “Todo tratamento de dor crônica não visa retirar a dor, pois isso é impossível. A gente visa dar qualidade de vida ao paciente e, para isso, é fundamental a participação do doente. Ninguém aguenta sentir dor. O tratamento de uma dor crônica é contínuo”, disse.
Pessoas que sofrem com a fibromialgia já têm atendimento preferencial em bancos, supermercados, órgãos públicos, além de estacionamento em Campo Grande. A lei criada pelo vereador Ronilço Guerreiro garante esse atendimento, mas para isso é necessário se cadastrar no site da Secretaria de Saúde.
De acordo com a Sesau, para ter acesso ao cartão, o usuário deverá acessar o módulo de cadastro link: http://condicaopermanente.campogrande.ms.gov.br/. Segundo o órgão, os documentos requeridos deverão ser anexados e serão analisados pela equipe técnica da Sesau para posterior expedição do cartão de identificação.
A representante da Associação Nacional de Fibromiálgicos e Doenças Correlacionadas, Josineth de Oliveira Pereira, disse que a síndrome afeta tanto o corpo, quanto a mente. “É uma doença invisível. Ela é invisível, mas nós, não. Por fora, parecemos saudáveis, mas, por dentro, lutamos contra dores insuportáveis e outros sintomas que afetam nossas vidas. Precisamos trabalhar para reduzir os estigmas, para que pessoas afetadas não sejam recebidas com descrença e até mesmo falta de respeito”, defendeu.
A Prof. Dra. Luziane de Fátima Kirchner, coordenadora do Projeto Fibro MS, defendeu um tratamento multidisciplinar aos pacientes. “As pessoas com fibromialgia trazem uma doença que é bastante silenciosa. Quando nós, como profissionais, conseguimos enxergar a dor desse paciente, valorizar esse sofrimento, temos uma resposta mais positiva ao tratamento. Sintomas como ansiedade, depressão e estresse aumentam a dor. Por isso, precisamos de um tratamento multidisciplinar. Tratamentos isolados respondem de maneira menos eficaz. Quando temos esse trabalho integrado, conseguimos uma ampliação nos indicadores de qualidade de vida dos pacientes”, garantiu.
Keyla Gomes, da Organização Fibromialgia Nordeste Brasil, relatou como a síndrome mudou seu dia a dia. “Eu trabalhava, tinha minha vida, e hoje não tenho mais. Muita gente não entende o que a gente passa. Sofro com isso há cinco anos e venho fazendo tratamento psicológico e reumatológico. É muito difícil lidar com tudo isso. Já fiquei 40 dias de cama com dor. Minha vida parou, mas estou tentando voltar e não tem sido fácil”, narrou.
Também paciente de fibromialgia, Carmem Lúcia Monteiro descobriu a doença há 20 anos. Desde então, lembra, sua vida tem sido uma luta diária. “Foi um impacto muito grande na minha vida. Tenho perca de memória também. Tenho que colocar bilhetinhos toda hora na geladeira, ou esqueço as coisas. Isso acontece há muitos anos, além das dores e fadiga. Se a gente não marca, não lembra. Também não conseguimos nos concentrar em alguma coisa. Há estudos, também, que relacionam dor crônica com comportamentos suicidas. Queremos esse cuidado. Há alguns pacientes que atentam contra a própria vida”, alertou.
A vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso do Sul, Jucimara Zacarias Martins, ressaltou que as mulheres que sofrem com a doença têm mais tendencia a ansiedade, depressão e estresse. “O sofrimento é real e pode ter impacto nas relações, no trabalho. Elas não são compreendidas dentro do seu ambiente familiar. Isso tem gerado desconforto. A questão das dificuldades cognitivas mostra que a psicologia deve estar presente no tratamento. Temos um potencial enquanto ciência psicológica tentando colocar um suporte social”, afirmou.
A ex-vereadora Enfermeira Cida Amaral também defendeu um tratamento com uma equipe multiprofissional aos pacientes. “Respeite a dor do outro. A gente precisa, realmente, da equipe multiprofissional. Só sou a enfermeira que sou pela equipe multiprofissional que me acompanhou. A gente precisa dessa interação para ajudar essas pessoas. Nós, mulheres, quando temos fibromialgia, choramos mais fácil. Os homens, apesar de serem 10%, também sofrem. Somos uma sociedade discriminatória. Se está com dor e não consegue trabalhar, é preguiçoso. Isso é muito sério”, alertou.
Jeozadaque Garcia
Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal